Excursão às Furnas

Eu e os condutores do autocarro, anos 60.

A semana passada recebi uma chamada telefónica de um primo que reside nos USA a dar-me uma triste notícia, a senhora Leontina tinha falecido. Recuei no tempo quarenta anos.
À memória vieram as recordações das excursões anuais, no verão, organizadas pela senhora Leontina.
Talvés se indagam dessa memória. Mas há quarenta anos atrás só algumas pessoas se podiam dar ao luxo de ter viatura própria.
Ir às Furnas era uma viagem divertida e esperada com muita ansiedade.
Na noite anterior ao tão esperado dia a minha mãe e avô preparavam as cestas com o maior cuidado, para não faltar nada.
Para além da merenda, as mantas não podiam ficar atrás.
A concentração vespertina era no canto em cima da Rua do Poço.
Vizinhos e amigos juntavam-se. Não faltavam cantadeiras (os) e o acordeão para os acompanhar.
A viagem para o destino fazia-se pelo norte, o regresso pelo sul. Durante a mesma entoavam-se cânticos tradicionais e cantava-se ao desafio. Contavam-se anedotas, difíceis de entender para um miúdo de 7 anos, mas as gargalhadas dos adultos, faziam as delícias dos mais pequenos.
Antes de chegar ao nosso destino existia uma paragem obrigatória, no Café Central na Ribeira Grande. Onde apanhei um susto de morrer ao cursar-me com uma velha de Capote traje típico e usual.
Nas Furnas após a merenda e a soneca da tarde, visitava-se a loja de vimes para comprar um arco para as crianças, e ia-se beber água azeda e encher os garrafões, vazios, que tinham transportado o vinho de cheiro.
No regresso a tradição mandava que ao passar por Água de Pau, os excursionistas, cerca de quarenta pessoas, gritassem em coro, alguns na janela da camioneta do Varela, “Foi aqui que a porca furou o pico…”, os habitantes ficavam furiosos, o que gerava gargalhadas.
Esta tradição perdura até aos nossos dias em algumas freguesias da nossa ilha.

João Freitas