Os torneios de futebolNos tempos actuais poucas são as crianças e os adolescentes que podem ter o prazer que eu e a minha geração tínhamos, nas tão ambicionadas férias de Verão, ou ferias grandes, como as intitulávamos.
Havia tempo para quase tudo, desde jogos tradicionais, brincadeiras ou pescarias até aos torneios de futebol ou de hóquei em patins.
Cresci livre brincando entre as ruas do Poço, Negrão, largo e rua da Mãe de Deus.
A Calheta de Pêro de Teive, recanto único, destruído, mas sempre presente na minha mente, oferecia águas límpidas onde nos banhávamos, pescávamos e bebíamos da sabedoria popular de pescadores e familiares.
Os barcos de boca aberta eram o nosso porto de abrigo onde nos secávamos, no entanto constituíam uma dor de cabeça para os pescadores. Pois a nossa rebeldia infantil e juvenil, fazia com que os barcos varados virassem.
Quer a pescaria, o banho e a utilização indevida dos barcos eram feitos ás escondidas das autoridades, neste caso em específico o Cabo do Mar.
As férias grandes de Julho até Outubro eram preenchidas com variadas brincadeiras, desde jogos tradicionais, que o tempo teima em apagar da memória dos mais novos até aos perigosos carros de esfera que fazíamos deslizar pela íngreme Rua do Poço.
A interligação com os vizinhos acentuava-se, fazíamos “recados” com idas à mercearia e à barraca de hortaliças.
Relativamente aos recados que fazíamos aos vizinhos, recentemente um amigo e companheiro de longa data, relembrou-me um episódio que se repetiu durante duas gerações.
A Tia Evelina, como era conhecida popularmente, mandava-nos á mercearia com um pedido muito especial. Dava 2 escudos e cinquenta centavos, os mesmos eram para comprar 2 escudos de vinho e cinquenta centavos de queijo, mas alertando que caso o marido estivesse na mesma, invertíamos a compra, 2 escudos de queijo e cinquenta centavos de vinho.
Nestes três meses de férias as tarefas escolares não eram esquecidas, tínhamos a incumbência de ler uma publicação recomendada pelo professor (a). Claro que esta só era cumprida nas últimas semanas de férias.
João Freitas