A Galinha dos Ovos de Ouro


As Tão Cobiçadas Notas de Santo António

O actual parque de estacionamento do supermercado SolMar na Calheta, existem alguns vestígios de ex instalações industriais, nomeadamente, o edifício da ex Fábrica de Torrefacção de Chicória e a Chaminé da Fundição Micaelense.
Essencialmente a Fundição Micaelense trás á memória tempos gloriosos da minha juventude, era um dos locais de eleição do habitual grupo de amigos, de quem tanto tenho falado, dos quais eu fazia parte e acrescia o facto de ser a nossa “galinha de ovos de ouro” que contribuía para o nosso orçamento.
No referido local encontrávamos todos os materiais necessários para improvisar um campo de futebol, construir cabanas para as habituais “coboiadas” uma pista de ciclocross e até aprendermos a ser futuros taxistas.
As velhas viaturas que se encontravam no local para desmantelar eram os nossos monitores, sem saírem do lugar, eram muito requisitados pelos clientes e percorriam a ilha de lés a lés.
Num dia afortunado o Luís Andrade, abriu o porta luvas da viatura que transportava o seu cliente, para lhe dar o troco, e qual é o seu espanto encontra entre tantas notas imaginárias (papéis) uma nota verdadeira de Santo António.
Ele não acreditava em tanta sorte e veio a correr ter com os restantes elementos a mostrar a tão abençoada nota de 20 escudos.
A euforia foi geral. A nota rendeu-nos muitos gelados caseiros da dona Clotilde “Couvinha” e algumas idas ao cinema.
Mas para nós a Fundição Micaelense era a nossa “Galinha de Ovos de Ouro”. Durante o dia recolhíamos nas ruas fios eléctricos de cobre que íamos vender ao capaz da fundição.
O mesmo colocava-os sempre no mesmo local, sem segurança e a céu aberto.
No final do dia íamos sorrateiramente ao local, martelávamos o cobre que tínhamos vendido e lá regressávamos na manhã seguinte a revendê-los ao capataz, esta situação era aplicada também a alguns materiais das viaturas para desmantelar. Vínhamos todos de “papo cheio” alegres pelos trocados e convencidos que tínhamos enganado mais uma vez o capataz.

João Freitas