Os Medos na Infância

Calheta Pêro de Teive, o paraiso das traquinices.

Certamente todos os leitores tiveram situações de medo na sua infância ou adolescência.
Dizem os entendidos na matéria que o medo é uma emoção básica e normal, que coloca o nosso organismo em alerta que ao longo da nossa infância, surgem medos variados, e à medida que vamos crescendo e amadurecendo a nível cognitivo e neurológico, estes medos tendem a desaparecer.
No entanto esta situação pode prolongar-se da infância até à idade adulta.
De facto, ao longo da infância, todos nós passamos por fases em que os medos estão no seu auge, e eu não fui excepção, nas minhas brincadeiras entre o porto da Calheta de Pêro de Teive e o Alto da Mãe de Deus, havia três pessoas e um cão que a minha geração tinha um pavor de morte.
Estes eram o cabo do mar, autoridade que no porto tinha como função manter a ordem e que todos os dias tinha como desordeiros a rapaziada que tudo fazia para o irritar, fazendo com que os barcos varados nas rampas virassem bem como as redes dos pescadores que eram muitas vezes danificadas.
A outra pessoa era uma senhora de idade, com ar desleixado e cabelo branco que vivia no alto da Mãe de Deus, numa casa extremamente velha, quase em ruínas, com um aspecto que nos fazia arrepiar os cabelos. Uma figura com estas características e vivendo em tal habitação só poderia ser apelidada por todos nós de feiticeira. Não passava de uma pobre senhora que não fazia mal a ninguém, era julgada pela sua aparência e pobreza em que vivia.
A terceira pessoa era o capitão Martins, um senhor de certa idade e proprietário de uma quinta de bananas. Não havia semana que a tão apetecível quinta não fosse visitada por nós e confesso, que na maioria de nós não era por uma questão de necessidade, fome, mas pelo simples prazer de fazer “traquinices”.
A terceira personagem era um cão que supostamente tinha como função guardar as instalações da Cofaco. O mesmo deambulava pelas travessas da Calheta, tranquilamente. Embora não fizesse mal a ninguém a sua postura imponente fazia-nos fugir a sete pés sempre que nos cruzávamos com o animal.

João Freitas