Recorde Mundial

Amigos de longa data
No passado Sábado passei algumas horas com o meu amigo Luís Miguel na sua quinta nas Furnas. A nossa amizade já vem da infância e têm-nos acompanhado ao longo dos anos.
A nossa adolescência foi vivida intensamente.
As férias eram para gozar o tempo livre e para realizar sonhos, ambiciosos mas possíveis de concretizar na sede da nossa juventude.
Numa tarde solarenga de 1982 estávamos mais a Rita (minha esposa) a olhar para o mapa-mundo e lembramo-nos de bater o recorde da maior bandeira do mundo e entrar para o Guinness.
As nossas mentes começaram logo a planear os passos a dar. Em primeiro lugar era necessário arranjar os tecidos. Combinamos ir a todas as lojas de Ponta Delgada para pedir o tecido para tão ambiciosa façanha. A nossa campanha iniciou-se logo de manhã e para começar bem o dia começamos pela Casa Brazil para falar com o senhor Albino. O senhor tinha uma patologia e estava sempre a abanar a cabeça (a dizer que não).
Levamos logo a primeira nega. Mas a nossa determinação fez-nos andar de casa em casa sem desistir, mesmo quando olhavam para nós como se fossemos loucos.
Infelizmente não conseguimos o apoio do nosso mercado e o nosso sonho ficou-se pelo caminho.
Passamos muitas aventuras juntos, mas existia algo que nós três diariamente tínhamos que fazer, senão não era dia, ir às Furnas.
O nosso percurso entre Ponta Delgada – Furnas e vice-versa era feito á boleia. Num dia como era de esperar as boleias não surgiam, o tempo passava e a noite aproximava-se.
A sorte sorriu-nos e um padeiro de Ponta Garça deu-nos boleia, numa carrinha fechada, até á entrada para a freguesia. Quando saímos da traseira da carrinha estávamos cobertos de farinha. Mas ainda havia muito caminho a percorrer até chegar a Ponta Delgada, era preciso arranjar outra boleia, mas ela não surgia e numa longa caminhada coberta pela escuridão fizemos cerca de 8 Kms até Vila Franca do Campo.
A nossa aflição era grande, pois não tardava a passar na RTP um dos nossos programas preferidos “Se bem me lembro” de Vitorino Nemésio e não podíamos de modo algum perder tal fonte de sabedoria.
Quando Deus quis arranjamos boleia até à Lagoa. Fomos directos para o Pub “O Telheiro” saboreamos uma bela hambúrguer e o nosso amigo Vitorino.
Outro episódio que passamos e que ficará marcada nas nossas memórias, foi na noite em que estávamos a ver a montra da Papelaria Pastor, o então Presidente do Governo dos Açores, Dr. Mota Amaral, morava no 1º andar, e um agente da PSP aproximou-se de nós colocou as mãos em cima dos nossos ombros e acusou-nos de estarmos a tentar pôr uma bomba na porta do presidente.
Não batemos o recorde da maior bandeira, mas tenho a certeza de que de boleias para as Furnas sim.

João Freitas