Venda direta de chicharros ao cliente
Conta o ditado popular que dos homens há os vivos, os mortos, e os que andam no Mar.
A vida no mar é dura e inclemente, mas foram muitos dos meus conterrâneos que não hesitaram em escolhê-la ou a herda-la dos pais ou avôs para sobreviverem aos tempos difíceis que passaram para alimentar as suas famílias.
Estes pescadores eram uns verdadeiros "heróis do mar" numa terra que, infelizmente, os foi esquecendo, tanto é que muitos dos jovens da geração seguinte á minha desconhecem que a Calheta era terra de gente do mar.
Mais do que qualquer outra freguesia de Ponta Delgada, São Pedro (Calheta Pêro de Teive) foi uma localidade piscatória, que forneceu muitas casas da cidade com a sua labuta diária, por vezes com tempo agreste e tempestuoso, como aquele que em 1919 ceifou a vida ao pescador João Palheiro (meu bisavô) que na sua lida diária nunca mais voltou a terra.
Dos pescadores da Calheta tenho na memória a azáfama que era a ida para o mar. Todos os dias quando passava das 22 horas, começavam a chegar os primeiros homens ao pequeno porto, carregando os apetrechos para a pesca ao chicharro, os petromax, os baldes de batata cozida para o engodo, as redes e os arcos. Sobre o olhar atento do mestre da campanha quando tudo estava em ordem era chegada a tarefa de arriar os barcos para só regressarem ao amanhecer.
Na manhã seguinte com a chegada da fauna dava-se início a um novo ciclo, sempre com as tarefas pré-definidas entre os pescadores, enquanto uns varavam os barcos, outros arrumavam as redes, limpavam as embarcações. Ao mestre cabia a tarefa de vender o peixe aos fregueses que no porto já os esperavam, venda esta que era feita á unidade, aos cento, meio cento ou á dúzia, um pescado com a frescura do mar.
Desta rotina diária o que realmente entusiasmava a garotada era quando as campanhas (grupo de pescadores) depois da venda do pescado iam para as tabernas fazer contas ao dia de trabalho. O mestre contabilizava a campanha, dividia em quinhões, três para ele, sendo uma para a embarcação, outra para os apetrechos e a sua cota. O restante era dividido entre todos os pescadores.
Após a contabilização existia sempre um pequeno acréscimo de alguns cêntimos que não era dividido, o sobejo, que era oferecido ás criança que aguardavam impacientemente no local, como o leitor calcula uma “serrilha” para uma criança naquela época era muito dinheiro.
João Freitas
A vida no mar é dura e inclemente, mas foram muitos dos meus conterrâneos que não hesitaram em escolhê-la ou a herda-la dos pais ou avôs para sobreviverem aos tempos difíceis que passaram para alimentar as suas famílias.
Estes pescadores eram uns verdadeiros "heróis do mar" numa terra que, infelizmente, os foi esquecendo, tanto é que muitos dos jovens da geração seguinte á minha desconhecem que a Calheta era terra de gente do mar.
Mais do que qualquer outra freguesia de Ponta Delgada, São Pedro (Calheta Pêro de Teive) foi uma localidade piscatória, que forneceu muitas casas da cidade com a sua labuta diária, por vezes com tempo agreste e tempestuoso, como aquele que em 1919 ceifou a vida ao pescador João Palheiro (meu bisavô) que na sua lida diária nunca mais voltou a terra.
Dos pescadores da Calheta tenho na memória a azáfama que era a ida para o mar. Todos os dias quando passava das 22 horas, começavam a chegar os primeiros homens ao pequeno porto, carregando os apetrechos para a pesca ao chicharro, os petromax, os baldes de batata cozida para o engodo, as redes e os arcos. Sobre o olhar atento do mestre da campanha quando tudo estava em ordem era chegada a tarefa de arriar os barcos para só regressarem ao amanhecer.
Na manhã seguinte com a chegada da fauna dava-se início a um novo ciclo, sempre com as tarefas pré-definidas entre os pescadores, enquanto uns varavam os barcos, outros arrumavam as redes, limpavam as embarcações. Ao mestre cabia a tarefa de vender o peixe aos fregueses que no porto já os esperavam, venda esta que era feita á unidade, aos cento, meio cento ou á dúzia, um pescado com a frescura do mar.
Desta rotina diária o que realmente entusiasmava a garotada era quando as campanhas (grupo de pescadores) depois da venda do pescado iam para as tabernas fazer contas ao dia de trabalho. O mestre contabilizava a campanha, dividia em quinhões, três para ele, sendo uma para a embarcação, outra para os apetrechos e a sua cota. O restante era dividido entre todos os pescadores.
Após a contabilização existia sempre um pequeno acréscimo de alguns cêntimos que não era dividido, o sobejo, que era oferecido ás criança que aguardavam impacientemente no local, como o leitor calcula uma “serrilha” para uma criança naquela época era muito dinheiro.
João Freitas