A Velha Guarda de Jornalistas

João de Brito Zeferino na apresentação da revista Plantel

Na semana tão atribulada onde um órgão de comunicação social da nossa cidade dispensou alguns dos seus jornalistas de referência, foi com especial agrado que recebi a notícia que a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting homenageou este sábado em Lisboa com o prémio carreira dois amigos e jornalistas da nossa terra, José Silva e João de Brito Zeferino.
Numa altura em que o poder do jornalismo e da informação está a ficar cada vez mais subordinado aos interesses económicos patronais é difícil manter os princípios fundamentais para se ser um bom jornalista.
O primeiro ponto do código deontológico do jornalista, diz que o jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade…
Para se ser jornalista é preciso ter o sentido de improviso, do imprevisto, ter uma vida activa, participar no dia a dia da sociedade, procurar ser-se isento, rigoroso e imparcial.
Mas para se ser um bom jornalista é preciso muito mais do que isto é preciso ser-se acima de tudo uma boa pessoa, honesto, ter ética e gosto pelo jornalismo.
Tive o grato prazer de trabalhar com ambos os homenageados nos meados dos anos 80 a 90, no “Jornal do Desporto”, numa época em que a escassez de meios materiais e humanos era notória, mas associado á visão de um homem, seu fundador, senhor José Ferreira de Melo, a boa vontade e o espírito de equipa imperava, muitas vezes com sacrifícios pessoais por parte da equipa de trabalho e colaboradores. Frequentemente me desloquei com o José Silva para os vários campos de futebol espalhados pela nossa ilha na sua viatura pessoal.
Deixo aqui um registo que demonstra bem o espírito daquela época.
Todos os Domingos o José Silva telefonava para os vários colaboradores para transcrever as notícias. Num Domingo o contacto com o colaborador das Capelas, que não tinha telefone e usava o do café perto de casa, estava a mostrar-se impossível, após várias tentativas o telefone tocava insistentemente, mas ninguém atendia. Como nada travava a força de vontade do José Silva, este resolveu ir ás Capelas. Qual é o seu espanto quando chega ao café e encontra o colaborador á porta do café, que tinha fechado naquele Domingo, a chorar desesperado por não poder enviar a notícia.
A velha guarda embora esteja a ser tratada indignamente nunca desaparecerá das nossas memórias e das palavras impressas.

João Freitas