A Labuta do Dia a Dia


O meu pai para além da sua profissão, fazia um part time no Museu Carlos Machado

Hoje em dia quando se pede sacrifícios aos contribuintes ou á população activa para darem o seu melhor, para que o nosso país possa superar uma situação menos boa do qual se encontra, a maioria ou talvez a grande parte dela, torce o nariz e parece que “cai o Carmo e a Trindade”.
Estou recordado de na minha infância á mais de quarenta anos, como era difícil o dia a dia dos portugueses, como era penoso sustentar uma família, pouca gente tinha automóvel ou casa própria, as famílias na sua grande maioria só tinham uma fonte de rendimento, a do homem pois muito poucas eram as mulheres que trabalhavam fora do seu lar.
Lembro-me perfeitamente do percurso profissional do meu pai que trabalhou mais de cinquenta anos como fotógrafo não falando do tempo militar, e que hoje goza de uma reforma merecida embora de uma quantidade monetária modesta para quem tanto tempo contribuiu para o desenvolvimento do nosso pais.
Recordo-me como eram difíceis os tempos de outrora, quando se trabalhava seis dias por semana, oito horas por dia incluindo os sábados e aos domingos para se ganhar mais uns extras era necessário ir fazer reportagens de casamentos, até a terça-feira de carnaval era dia normal de trabalho.
Hoje é difícil imaginar como era Portugal á quarenta ou cinquenta anos atrás, não havia acesso a coisas que hoje fazem parte do nosso dia-a-dia e que nos são tão banais, como por exemplo um simples microondas ou um isqueiro a gás.
Na minha família também tive imigrantes como a maioria das famílias dos Açores, tive por exemplo a minha bisavó materna que teve de imigrar para o Brasil onde trabalhou nas “roças” de café e da cana do açúcar, numa altura em que só a tormenta da viagem até ao Brasil era um martírio, pois os barcos eram á vela e com condições de higiene e de alimentação muito precárias.
Como eram difíceis os tempos em que me criei, tenho na memória o trabalho árduo da terra, o meu avô paterno trabalhava de sol a sol como estufeiro, cavando e aguando as estufas sem ajuda de nenhuma máquina.
E é assim que recordando o passado penso que os portugueses reclamam por tudo e por nada, é certo que ninguém gostava de passar pelas dificuldades de outros tempos, mas para isso temos todos de dar as mãos e trabalhar para o futuro da nação, e para que mais tarde falem de nós com o mesmo orgulho que falo dos nossos antepassados. 

João Freitas