A Saudosa Calheta

O Porto da Calheta Pêro de Teive

O porto da Calheta Pêro de Teive desaparecido á mais de vinte anos ainda hoje deixa saudades a quem lá trabalhou, viveu, nasceu ou simplesmente quem apreciava o seu pitoresco porto de pesca.
A Calheta Pêro de Teive era um porto de pesca artesanal, criado de um acidente geográfico natural. Hoje desaparecido devido ao aterro a que foi sujeito por via da necessidade do prolongamento da Av. Marginal e da construção da Marina de Ponta Delgada.
Como já tive oportunidade de referenciar, aqui neste espaço, nasci e fui criado neste local de estrema beleza de uma envolvência social e económica peculiar. Vivi momentos únicos entre as embarcações e a azafame da vida piscatória desde a minha infância até à adolescência.
Existiram momentos marcantes, ensinamentos de vida, da observação e vivência indirecta da dureza da vida dos pescadores.
Vivia precisamente na Rua do Poço, onde existem hoje viaturas ligeiras estacionadas, na minha infância eram as embarcações de pesca que se refugiavam das intempéries.
A Calheta Pêro de Teive era um dos meus locais preferidos, os barcos eram o nosso porto de abrigo nas brincadeiras de infância, as suas águas límpidas repletas de peixe, eram local de eleição para nadar e pescar.
Os pescadores tinham uma relação muito forte com a população local e existia um respeito mútuo. As pequenas embarcações “chatas” que estavam atracadas junto ao molhe eram muitas vezes usadas pela rapaziada que ia dar uma volta de barco. O nosso cuidado e responsabilização com as mesmas era transmitido e vivido por todos quanto faziam uso delas, pois não queríamos perder a confiança dos seus proprietários. Na adolescência a maior parte dos serões passava-se sentados no paredão a conversar e a tomar um copo com os amigos ou a fazer novas amizades.
A Calheta Pêro de Teive era também um porto de abrigo para os aventureiros que se faziam ao mar a percorrer grandes distâncias, embora atracassem as suas embarcações junto à Doca iam parar à Calheta. A ambiência era por vezes caricata pois muitos de nós não falávamos inglês ou alemão, os gestos predominavam e lá nos entendíamos.
Tenho um sentimento de pesar por algumas pessoas mais jovens não terem tido o prazer de conhecer a Calheta Pêro de Teive.

João Freitas