O Dia da Raça

Com cara de poucos amigos a caminho da escola

Faço parte de uma geração que começou os estudos primários nos finais da década de 60. A estrutura da escola era dividida entre o sexo masculino e feminino, as secretárias continham um orifício para o tinteiro que servia para a nossa “esferográfica” de pena, o uso da bata branca era obrigatório. O rigor imperava nas salas de aula, todas as matérias que eram bastante diversificadas como por exemplo história de Portugal, matemática, leitura, caligrafia, geografia, ciências da natureza eram estudadas com afinco e na 4ª classe onde se tinha de fazer exame escrito e oral estudava-se também o corpo humano. Este exame era supervisionado por um inspector da Direcção escolar.
Os nossos cadernos tinham que ter obrigatoriamente um aspecto limpo e ordenado, quando se fazia um ditado na sala de aulas, empenhávamos com uma atenção desdobrada, para não borrar a escrita, para o efeito tínhamos o mata borrão.
Naquele tempo, havia muito respeito e educação pelos professores, eram encarados como os substitutos dos pais, os castigos faziam parte do ensino, na sala de aulas o silêncio era absoluto e quem não soubesse a tabuada habilitava-se a conhecer a tão famosa palmatória.
Hoje passados mais de quarenta anos desde os tempos da escola primária ainda tenho na memória como era comemorado o Dia da Raça naquele tempo.
Vários são os nomes que atribuíam à data do 10 de Junho: Dia da Raça, Dia de Camões, Dia de Portugal ou Dia das Comunidades, no entanto o que ficou mais conhecido e do qual hoje em dia ainda é mais comum dizer-se é o Dia da Raça.
O dia começava como todos os restantes do ano lectivo, de pé em sentido cantava-se o hino nacional e rezava-se um Pai Nosso ou uma Avé Maria, isto sob os olhares austeros de Américo Tomás e Marcelo Caetano, omnipresentes nas fotografias emolduradas nas paredes da sala de aulas.
Após formalizado o primeiro acto do dia, as classes de cada sala reuniam-se no recreio da escola e formávamos dois a dois com o professor á cabeça, comandando o grupo que de olhos fixos nas nucas da frente lá marchavam até ao Campo de São Francisco para assistir a um discurso do qual ninguém percebia e á missa cantada na igreja de São José com a presença da Mocidade Portuguesa.
Eram assim os tempos de escola de antigamente no Dia da Raça que se regia por regas Deus, Pátria, Religião, Respeito, Rigor e “camaradagem” entre colegas.

João Freitas