Respeitar a Natureza


O Dia do Calhau

Os Açores são por natureza um território paradisíaco de grande beleza, com áreas protegidas e de locais reconhecidos mundialmente como as sete maravilhas naturais de Portugal ou pela UNESCO com a distinção de património mundial, a Angra do Heroísmo ou á Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico.
A natureza é uma presença constante no nosso dia a dia, e existe quem defenda que desfrutar dela faz bem á saúde, no entanto é preciso ter cuidado com o que fazemos não vamos estragar um bem tão precioso.
Para quem gosta do contacto com a natureza as nossas ilhas são sem dúvida o local certo para passar umas férias de sonho, é pena que muitos açorianos assim não o entendam e preferem o Algarve ou as Canárias para o fazer, assim nunca iram descobrir o paraíso onde vivem.
Recordo com saudades duas actividades que antigamente tinha por habito praticar no verão, uma era o campismo que era feito nas margens da Lagoa das Furnas, embora se trata-se de um campismo não controlado, existia um respeito pela natureza e um saudável convívio entre naturais da terra e turistas. À noite as fogueiras eram um pretexto para uma noitada passada numa alegre cavaqueira, onde imperava a música, as anedotas e por vezes bailaricos. Muitas famílias deixavam as suas tendas montadas e iam trabalhar a Ponta Delgada regressando no fim-de-semana, as mesmas eram asseguradas pelos outros campistas que estavam de férias.
O outro era o dia do calhau que decorria num Domingo de Setembro e tinha lugar no calhau por detrás do estabelecimento prisional de Ponta Delgada, hoje desaparecido para dar lugar ao prolongamento da avenida marginal. Éramos um grupo de amigos coesos que dedicavam um dia ao mar. As mulheres eram responsáveis pelo almoço que era confeccionado com o fruto da pesca submarina e de pedra. Enquanto uns pescavam outros iam preparando o local para cozinhar. Os mais pequenos deliciavam-se a mergulhar nas límpidas e transparentes águas.
Após o almoço, enquanto se fazia a digestão, iniciava-se o ritual duma jogatina de cartas, cantigas ao desafio e anedotas. O dia não terminava sem um belo mergulho.
Hoje é quase impensável em S. Miguel fazer-se campismo livre, porque muitos de nós não soubemos respeitar a natureza e tiveram que nos impor regras para a proteger. Passar um dia no calhau está fora do conformismo que nos habituamos.

João Freitas